Não só por patriotismo, senão também por amor á arte!



Na Revista Portuguesa Colonial e Marítima, de 20 de Outubro de 1898, publicou-se o seguinte artigo:

–«Não é questão nova, esta de se harmonizarem os inauferíveis direitos do idioma nacional com a
nomenclatura geral da Geografia e, ainda, de outras sciências.
«Geralmente,–diga-se sem offensa,–os homens, que de preferência se dedicam á cultura e desenvolvimento das sciências, preoccupam-se mediocremente da fórma literária e, portanto, dos direitos da própria língua em que escrevem.
«A consequência é fácil de prever:–Aquelles, que os estudam e respeitam, confundem de ânimo leve
a autoridade scientífica com a autoridade literária, e vão-lhes no encalço, muita vez ás cegas, cooperando amiúde, talvez inconscientemente, nos extravios e abastardamento de uma linguagem, cuja belleza immaculada nos devia de sêr crèdora do máximo respeito, não só por patriotismo, senão também por amor á arte.
«Um exemplo bastará, para comprovar o assêrto.
«Desde que na Europa é conhecida a cólera, ou cholera-morbo, todos os médicos, que bem conheceram a sua língua, attribuiram sempre àquella epidemia o gênero feminino; e, em revistas, em relatórios officiaes, nas cadeiras do magistério, nunca disseram nem escreveram senão a cólera ou a chólera.
«Vieram outros, menos escrupulosos e mais conhecedores do francês que do português, e, como em
livros estrangeiros leram le cholera, concluíram disparatadamente que o que é masculino em Paris
também o deve sêr em Lisbôa e Cabinda.
[...]
«O facto é que, entre gente de certa cultura scientífica, mas de duvidosa cultura literária, é vulgar
ouvir-se e ler-se o chólera, ou o cólera, e a massa do público, ingênuo e anónimo, vai papagueando o
chólera, com uma inconsciência que faz pena.

* * * * *

«Facto análogo se dá com a nomenclatura geográfica. Como Portugal, país de ousados marinheiros e descobridores, não é precisamente, nos tempos que correm, um país de cartógraphos nem de didactas geográficos, os jornaes, o falar commum, os mappas e a própria didascálica official, andam inçados, não só de notáveis incorrecções onomásticas, mas até de êrros deploráveis. «Creio têr-se já falado da necessidade ou opportunidade de se confiar o estudo e a resolução do assunto a um grupo ou commissão de competentes, que em o nosso vocabulário geográfico fizesse as modificações e correcções, que a língua portuguesa exige. «Nada porém se fez até agora, supponho eu; e, em quanto os mais competentes se não abeiram da matéria, indicarei alguns pontos, que patenteiam a necessidade da revisão onomástica do alludido vocabulário. «A um ou outro dêsses pontos já noutros lugares me tenho referido; mas nunca há demasia de referências, quando estas ferem chaga que se não cicatriza num dia.
 * * * * *
«Certo, não dou novidade, referindo-me á semceremónia, com que os nossos escritores e o pú- blico enjeitaram a portuguesa Samatra, ou Çamatra, para perfilhar a fórma exótica Sumatra. «¿Não seria ainda tempo de restituirmos á palavra a sua fórma genuinamente portuguesa?
 * * * * *
«Os nossos velhos escritores, que se occuparam do Oriente, falaram muitas vezes de Suaquem, junto ao Mar-Roxo. Lê-se geralmente Su-a-quém, mas parece que a pronúncia exacta será Su-á-quem. «Como os Franceses representam por ou o nosso u, e por in o nosso em, representaram a palavra portuguesa por Souakin. Foi quanto bastou, para que o nosso patriotismo se esquecesse da prata de casa e se fôsse servir do pechisbeque estrangeiro. «Souakin e Suakin é o que se lê hoje em mappas e livros nossos! «Faria pena, se não causasse nojo.
 * * * * *
«Felizmente, a generalidade dos nossos escritores ainda conserva Bombaím. Mas, sem citar nomes, porque a minha preoccupação não é de pessôas mas de ideias, não posso esquivar-me a denunciar, com muito sentimento, que, entre os autores de livros nossos, há quem tenha o desplante de inglesar a palavra, mascarando-a de Bombay! «Que estranha ideia formam da escrita nacional alguns dos meus letrados compatrícios! * * * * * «É vulgaríssimo o lermos Algéria, em livros e jornaes, quando é certo que, em português, só se diz Argélia. «Aquella França é que tem a culpa. Se até há quem escreva algeriano, (francês algerien), em vez do portuguesíssimo argelino! «Por causa do francês, escreve-se, ás vezes, a respeito da cidade de Luques, que afinal é Luca; cita-se Bâle, que não é senão Basileia; e chega-se á perfeição de chamar Damas á cidade de Damasco! «Da Itália também se tem importado o Livorno, cidade, cujo nome português é Liorne. * * * * * «São capitaes êstes e outros pontos. Accessórios, há muitíssimos, mas não despiciendos. Convém, por exemplo, corrigir as grafias Brazil, Suissa, Allemanha, etc., grafias usuaes mas incorrectas, que se não justificam perante a sciência da linguagem. * * * * * «Como se vê, e certamente no conceito de quantos se interessam pela língua portuguesa e pelo lustre da sciência, porque nenhuma sciência brilha, coberta de remendos, a revisão do nosso vocabulário geográfico não é apenas conveniente, é necessária. «Não falta quem possa corrigir abusos, modificar usanças injustificáveis, normalizar praxes autorizadas. «Não basta porém a competência individual. Tarefa tal tem de sêr collectiva, para se não evitar a discussão, e para que as conclusões tenham responsabilidade ampla e, portanto, mais autoridade que uma voz insulada, por mais alto que sôe. «18–IX–98. Candido de Figueiredo». * * * * * Em 16 de Janeiro de 1899, e em nome da secção de ensino geográphico da Sociedade de Geographia de Lisbôa, foi apresentado á assembleia geral desta corporação um parecer, redigido pelo eruditíssimo romanista Gonçalves Viana, e que terminava com os seguintes períodos sôbre nomenclatura geográphica: «A maior parte da antiga nomenclatura que usaram os nossos escriptores10 desde o século XV, e mesmo antes, até o princípio do século actual, vae caindo em desuso ou sendo menosprezada, não se tendo na devida conta, ao escrever compendios, que êsse vocabulário e as fórmas genuinamente portuguesas de nomes próprios de mares, de rios, de terras, de povoações, de quaesquer localidades emfim, fazem parte essencial do léxico nacional, tão essencial, como as demais dicções da língua patria. A maioria, se não todos os compendios empregados no ensino geográphico, veem inçados de denominações estrangeiras ou estrangeiradas, mal formadas umas, falsas outras, illegíveis muitas dellas, e não poucas inúteis por já existirem na língua outras, ou melhór autorizadas por bons escriptores nossos, ou mais conformes com a índole e particularidades de pronúncia do idioma que falamos e sua orthographia tradicional, cujas feições týpicas são característico nacional de tamanha valia como outro qualquer dos que nos differençam dos outros povos. «Por isto julga a Secção da maior urgência que ao Govêrno se submettam as seguintes ponderações: «É de necessidade que se restabeleça nos compendios de geographia, de qualquer grau, a nomenclatura portuguesa empregada pelos escriptores do período áureo da nossa litteratura, e outros posteriores ao período de fixação de fórmas da língua portuguesa, modificando-se-lhes apenas as feições orthográphicas que sejam evidentemente reconhecidas como arcaicas ou erróneas; com a maior prudência, porém, para que da modificação não resulte alteração na pronúncia portuguesa de taes denominações. Para êste resultado, pelo menos parcial, há trabalhos feitos, alguns dêlles tabulares, como são, por exemplo: o «Roteiro da Costa d’África» de Castilho; os nossos antigos compendios de Geographia; «Geographia dos Lusíadas», do nosso fallecido consocio Borges de Figueiredo; a edição do mesmo poema feita em 1880 pelo nosso consocio Francisco Adolpho Coelho; as «Decadas» de João de Barros e Diogo do Couto, publicadas pela Imprensa Nacional de Lisbôa, acompanhadas de índices de fácil e rápida consulta; e sôbre nomenclatura arábica, e com toda a confiança, os eruditos trabalhos do nosso consocio David Lopes, dados á estampa por occasião do centenário do descobrimento do caminho marítimo da Índia, com o patrocínio da nossa Sociedade, nomeadamente o que trata da aljamia portuguesa, e o último publicado, «História dos portugueses no Malabar», que tem um índice alphabético, ao qual facilmente se póde recorrer. «Há ainda outras obras de carácter mais especial, que conviria utilizar, mas que a Secção se abstem de mencionar, porque a levaria muito longe a resenha e sobretudo porque algumas dellas têm sido objecto de estudo ou de methodização por parte de vários membros da Secção. «Apontará todavia ainda as publicações de carácter official anteriores a 1850, isto é, pertencentes a um período, no qual a innovação neste ponto se não havia ainda manifestado. «Restabelecida por este modo a antiga e boa nomenclatura, ou as fórmas portuguesas das denominações geográphicas indicadas, pelo menos até onde se puderem por agora averiguar, restará ainda um cabedal copiosíssimo de outras denominações da mesma natureza, mas de origem moderna, ou não mencionadas em escritores nossos de boa nota nesta espécie, e para ellas urge igualmente fixar normas que evitem a sua multimoda deturpação, ou a sua escripta inútil e desarrazoadamente estrangeirada, ou infundadamente etymologica. Três ou quatro exemplos soltos darão ideia geral do pensamento da Secção a este respeito. «A fórma portuguesa consagrada do nome de uma cidade e de um Império no Norte da África é Marrocos, sendo para notar que é de todas as conhecidas a que mais se aproxima da pronunciação arábica deste nome. Modernamente, porém, apparece outra fórma a pretender substituí-la, quando se quer designar especialmente o nome da cidade, distincção futil que os Mouros não fazem, e cuja escripta não contém elementos de leitura claros para portugueses: é Marrakesch. Esta fórma é de origem alemã e muito recente. «As regras de duplicação de consoante estão, na orthographia portuguesa denominada etymologica, subordinadas actualmente á existência de taes geminações no idioma do qual foi, ou é, tomada a fórma portuguesa do vocábulo, e nem sempre. O que é irracional e infundadamente complicado é fi- gurar na denominação portuguesa uma duplicação de letras que não existe nas línguas originaes, nem por ellas se explica. Assim, é êrro escrever-se Iacca, Benguella, por Iaca, Benguela. «Ás línguas africanas usadas em domínios nossos, quer da família cafrial, quer dos vários grupos de idiomas falados ao Norte do Equador, é peculiar uma nasalização, em certas circumstâncias, de vá- rias consoantes iniciaes, Ntessa, Mbundo, por exemplo. É frequente vêr escriptos estes nomes com um apóstropho a preceder, ou a seguir, o que peor é, o m ou o n. Tal sinal orthográphico, cujo emprego em português se limita a indicar, em certos casos, a suppressão de uma letra, não deve sêr usado para designar outro facto, e a verdade é que nenhuma letra há supprimida em taes nomes, nem antes, nem depois do m ou n. A romanização portuguesa legí- tima destes vocábulos africanos já os nossos escriptores a fixaram há muito, e convém que os tomemos por modelos: antepunham uma vogal que fizesse sýllaba com êsse m ou n, como os nomes Angola, Ambundo, e outros testificam. «O x denotou sempre na península Espânica, com excepção única do castelhano moderno (desde o XVII século) o som que em português se lhe dá nos vocábulos xadrez, xairel: cumpre, portanto, que esta letra substitúa incondicionalmente, em todas as transcripções e translitterações de nomes estrangeiros, escriptos com outros alphabetos que não sejam o romano ou o gótico, as barbaras escriptas sh, sch, inglesa a primeira, alemã a segunda, e que nenhuma pronunciação indicam para portugueses. O mesmo se deverá fazer em relação a w e y, que serão substituidos por u, i, como fez Heli Chatelain, na orthographia do quimbundo; o mesmo ainda a respeito de k em vez de c ou qu, de oo ou ou em vez de u, e de ch, que só deve sêr mantido para indicação do som que representa nos falares das Beiras, do Minho e de Trás-os-Montes, análogo ao ch castelhano e inglês, e sempre representou em português, até o princípio deste século. Deste modo, Tchad, Kamtchatka devem sêr escritos em português Chad, Camchatca, seja qual fôr a pronunciação que se lhes dê; qualquer outra escripta é barbara, como o é Shiraz por Xiraz, Nyassa por Niassa, Tanganyika por Tanganhica. «Nem para tal regularização da escripta de nomes estrangeiros geográphicos ou pessoaes nos deve estorvar a allegação, tantas vezes repetida e nunca documentada, de que os nossos antigos autores escreviam esses nomes como os ouviam, e que os ouviam mal; visto que o mesmo fizeram e fazem os escriptores estrangeiros, a quem imitamos, ao usarem em tal representação gráphica os caracteres latinos, ou outros, aos quaes davam e dão o valor que têm na língua de cada um delles, ou um valor convencional, que varia conforme os autores, ainda mesmo que pretenda ser scientífico. «Apresentaremos um exemplo que é de molde para convencer. Os nossos chronistas da Ásia escreveram Coge Çofar, e em modernos escriptos vemos o mesmo nome orthographado Khwadja Safar. A pronunciação, porém, á parte o som inicial que não existe em português e que portanto tão bem está indicado por c como por kh, se é que o não está melhor, a pronunciação, pois, é muito mais conforme em persa com a nossa antiga escripta e pronuncia, do que com a supposta translitteração moderna: a letra u não a proferem os Persas depois daquella inicial; o a longo pronuncía-se como o, e o a final mal se ouve e está conseguintemente muito bem representado por e mudo. Assim a fórma Coge, como representação gráphica da pronúncia persa para portugueses, é muitíssimo mais fiel do que a fórma Khwadja, a qual é um verdadeiro enigma para todos. «O mesmo podemos dizer com relação á extravagante forma Sikokf, de origem hollandeza, que não é mais que o imperfeitíssimo arremedo da fórma portuguesa Xicoco, a qual reproduz com a maior fidelidade a pronúncia japonesa deste nome. «As differentes nações europeias possuem orthographias suas para a transcripção dos nomes geographicos e pessoaes estranhos: applicam essas transcripções os Franceses, os Ingleses (nem sempre com coherência), os Alemães, os Italianos, etc, e em todas ellas é o valor alphabetico que as letras romanas obtiveram na língua de cada uma dellas, que constitue a base dessa transcripção, como constituía para a dos nossos antigos autores o valor dessas letras em português. Os nossos vizinhos espanhoes fixaram já, em trabalhos históricos, geográphicos e outros, a escripta castelhana dos nomes arábicos, ao adoptarem a transcripção de Eguí- las Yangas, quási toda baseada no valor tradicional dado na península hispânica ao alphabeto romano. Urge, portanto, que nós os portugueses, que tantos nomes fizemos conhecidos em virtude da narração dos nossos descobrimentos e conquistas na África e na Ásia, não só recuperemos o cabedal esperdiçado, mas também, tomando-os por modelos, e continuando a tradição, apenas interrompida há uns cincoenta anos, por esses padrões pautemos a escripta dos que êlles não mencionaram, ou não conheceram. «Outra necessidade impreterível do ensino geográphico, como do histórico, consiste em indicarse em todos os compendios a pronúncia portuguesa de todos os nomes próprios, visto como em tal ensino convém não deixar introduzir erros, que diffi- cilmente se corrigem ao depois. Devem, pois, ser todos esses nomes graphicamente accentuados na sua syllaba predominante, para o que se terão sempre presentes as regras da accentuação latina, modificadas pelas leis que as regem em português. O discípulo, e também o professor, (que não podemos exigir que seja um philologo encyclopedico), o primeiro para aprender certo, o segundo para não ensinar errado, devem encontrar sempre nos compendios indicada a accentuação, para que não pronunciem, como a todo o momento ouvimos, por exemplo, Taygéto, Ladóga, Ônega, Cagliári, Gibráltar, Quilôa, em vez das accentuações verdadeiras, que são Taýgeto, Ládoga, Onéga, Cágliari, Gibraltár, Quíloa; e bem fôra que se restabelecesse a verdadeira accentuação portuguesa em outros nomes, como Madagáscar, evidente na medição do verso dos Lusíadas em que apparece o nome da maior ilha africana, (á qual os nossos primeiramente puseram nome São Lourenço), como a de Quíloa também o é 11 . «Se não exorbitasse a Secção da parte do ensino que lhe incumbe, não duvidaria de instar igualmente pela accentuação de todos os nomes technicos nos respectivos compendios, e nomeadamente pela accentuação de todos os nomes pessoaes historicos, bem como pela restituição e revindicação das fórmas portuguesas tradicionaes, a respeito daquelles que já nos apparecem trajados estranhamente, sobretudo á alemã, ou com um grupo de letras insignificativas e impossíveis em português, taes como: bh, dh, kg, wy, hm, etc.; devendo accrescentar que seria da maior vantagem e conveniência didáctica que esses nomes figurassem já accentuados no texto, e que houvesse, além disso, para maior commodidade da consulta, um indice alphabetico de todos elles, ao cabo de cada volume, no qual se reproduzissem com a devida accentuação marcada, e a pronuncia ção portuguesa em casos de dúvida. «Com relação a nomes não romanizados nem romanizaveis á portuguesa, de igual importancia parece á Secção que seria a indicação, por letras portuguesas, da sua pronúncia aproximada, mencionada entre parenthese, no texto e no indice, como vemos em geographias escolares estrangeiras, e até em livros nossos. E não se cuide que o ensino simultaneo, principalmente do francês, e o do alemão ou inglês, obviará á incerteza que resulta para a pronunciação da falta de accentuação gráphica e de pronúncia, porque não só o conhecimento dessas línguas induz em erro se taes nomes lhes são estranhos, mas também porque os nomes proprios que lhes pertencem são, em muitos casos, excepções ás regras que lhes regulam a leitura. «Vemos em compendios anteriormente publicados exemplos de dois subsídios que apontámos, e consta á Secção que êsses subsidios foram muito bem acceitos pelo nosso professorado, e tanto que a falta delles foi já assinalada como defeito capital em um dos livros adoptados para o ensino secundario, conforme a última reforma delle. «Ninguem duvidará, de certo, de que a revindicação, correcção e fixação da orthographia dos nomes próprios geographicos, historicos e outros, e a indicação da sua accentuação ou pronuncia, são trabalho que exige noções muito especiaes e devido preparo, ao mesmo passo que, em muitas circunstâncias, laboriosas pesquisas, segurança de methodo e bastante circunspecção. «Não falta, comtudo, nesta Sociedade, ou pelo menos em Portugal, quem o possa empreender e levar a cabo, coadjuvando-se mutuamente diversas pessoas, aquellas que com tal objecto tem, com apropriadas habilitações previas, applicado o seu estudo a esse assumpto. A Secção já citou o nome de um consocio, que para a nomenclatura arabica poderia concorrer com a sua competencia, já provada neste ramo pela transcripção systemática que escrupulosamente fixou nos trabalhos que mencionámos, e a qual, se descontarmos minutíssimos accidentes em que talvez foi longe de mais no aportuguesamento orthográphico, se póde considerar como modêlo. Sabido é tambem que outro nosso consocio adoptou, com respeito á nomenclatura cafrial, nos volumes que publicou á cêrca da Lunda, uma transcripção vulgar irrepreensível e methodica; como tambem se não ignora que na mesma Sociedade existe quem possa, com a devida autoridade, consagrar-se á regularização da nomenclatura da India portuguesa, e outras asiaticas. Se aqui, pois, se trabalhar neste empenho, poderá sem duvida, em breve prazo, submetter-se ao Governo um plano geral de romanização portuguesa, acompanhado dos competentes nomenclatores; corrigindose, porem, desde já o que se puder de prompto corrigir e consignando-se, por inclusão nos respectivos programas para concurso de livros de ensino, a condição expressa e indeclinavel de que a nomenclatura seja, quanto possível, sujeita a correcção motivadapelos competentes jurys, verdadeiramente portuguesa e devidamente accentuada. Conviria além disso que, entre parenthese, nos casos necessarios, se indicassem, nos mesmos compendios, as denominações nacionaes, conforme a orthographia propria de cada uma das nações que se servem do alphabeto romano ou do gótico, todas as vezes que a identifi- cação ás fórmas aportuguesadas não seja evidente, ou quando haja mais de uma denominação autorizada, como acontece, por exemplo com Autuerpia e Anvèrs, á imitação do que se costuma fazer nos bons diccionarios geographicos, e até em vocabularios bilingues. «Por outra parte, convém semelhantemente que até a escripta dos nomes geographicos portugueses do continente e ilhas adjacentes soffra tambem uma revisão e uniformização methodica, para que esses sejam igualmente corrigidos. Escriptas taes com Foya, com y, a par de Azoia, com i, Monsão, em vez de Monção, etc, devem desapparecer de livros de ensino; primeiro porque manifestam incongruencia, segundo porque habituam o espirito do alumno á idéa de que a escripta é assumpto de escassa importancia.

«O relator,
A. R. Gonçalves Viana.»

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